Maomé tem atualmente milhões de seguidores pelo mundo a
fora, e o islamismo é uma das religiões que crescem mais rapidamente.
Logo que começou, entretanto, o número de convertidos era
muito pequeno. Quase ninguém entendia o que Maomé estava dizendo. Nos seus
escritos ele abriu o coração sobre a bênção que era encontrar alguém que cresse
nele. E prometeu para os primeiros adeptos uma infinidade de bênçãos.
Tem surgido um sem número de líderes, religiosos ou
seculares, sempre prontos a subornar seus primeiros seguidores. Estou usando a
palavra “subornar” aqui no sentido de que eles pagam pela adesão com promessas
de bênçãos ou favores, ou tentando convencê-los de que são pessoas especiais.
Essa é a maneira mais freqüente para se iniciar qualquer tipo de movimento,
negócios ou outras atividades que demandem crescimento numérico. Esses líderes,
depois de se empenharem com afinco para conseguirem os primeiros adeptos,
estimulam-nos, despertam neles um grande entusiasmo, de modo a fazer com que o
movimento se auto-propague.
Mas Jesus não fez grandes promessas quando começou seu
ministério.
Segundo a Bíblia, quando chamava seus seguidores,
limitava-se a dizer-lhes: “Segue-me” (Jo 1.43).
Mais surpreendente ainda é o fato de que ele não usava
qualquer tipo de influência para promover sua causa. João conta a história de
Nicodemos chegando à noite para visitar Jesus. Ele descreve Nicodemos como
sendo um dos fariseus, “um dos principais dos judeus” (Jo 3.1). Do que ficou
escrito podemos inferir que Nicodemos pertencia à hierarquia judaica. Ao
mencionar que ele era um fariseu, membro de uma seita religiosa das mais
conservadoras, cujo nome significa “aqueles que são separados”, João tenciona
chamar a atenção dos leitores para o fato de que aquele homem que estava procurando
Jesus não era uma pessoa qualquer.
Imaginem que dividendos renderia tê-lo como um dos primeiros
a se converter! Com que orgulho Jesus poderia ter-se jactado: “Tenho discípulos
no alto escalão”. Não é estranho que Jesus não tenha dado a Nicodemos uma
recepção maior e mais importante do que a qualquer outro? Ele não tentou nenhum
tipo de persuasão e nem fez nenhuma promessa; não dispensou, tampouco, palavra
alguma de elogio ou que demonstrasse ter reconhecido o “status” daquele homem.
Jesus ouviu as palavras gentis de Nicodemos: “Rabi, sabemos
que és Mestre vindo da parte de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais
que tu fazes, se Deus não estiver com ele” (Jo 3.2).
Quando Nicodemos parou de falar, Jesus não disse:
“O senhor chegou ao lugar certo. Continue fazendo o melhor
que puder”. A presença de um dos grandes de Israel também não intimidou o
Senhor. Ele não disse aquilo que muitos dos líderes cristãos atuais dizem
quando falam com não-cristãos, principalmente aos que vêm de outras religiões como
o budismo, o islamismo, o hinduísmo ou o espiritismo: “Você” conhece uma parte
da verdade e nós estamos com a outra parte, e, afinal, estamos todos lutando
juntos”.
Jesus olhou de frente para aquele líder religioso,
competente e conceituado, e disse-lhe apenas: “É preciso nascer de novo”. Não
disse a Nicodemos aquilo que ele queria ouvir, nem o elogiou por ter vindo
vê-lo, ou ouvi-lo. Tampouco procurou influenciá-lo para que se tornasse um dos
seus discípulos. Em vez disso, transgrediu todas as boas normas de marketing,
fazendo a Nicodemos uma exigência espiritual.
Nada de Transigências
De acordo com os padrões de muitos dos líderes atuais, Jesus
cometeu um grande erro quando falou com Nicodemos. Qualquer curso de marketing
de que já ouvi falar ensina que a primeira coisa que o vendedor tem de fazer é
ser agradável com o comprador em perspectiva; é instruído a usar de lisonja ou
adulação, a procurar algum ponto positivo ou de interesse do outro, e tecer
comentários favoráveis em torno dele. Aprende também a mostrar cordialidade e
abertura. E, acima de tudo, deve manter sempre um sorriso.
Muitos líderes, quando diante dos chefões e os poderosos
deste mundo, tendem a diluir suas convicções — ou, pelo menos, falar delas com
o maior cuidado, enfeitando-as e tornando-as o mais aceitável possível. Evitam
ao máximo desapontar as pessoas principalmente no primeiro encontro. Jesus não
respeitou essas regras.
A hora escolhida por Nicodemos para encontrar-se com Jesus
indica que um homem na sua posição havia de sentir-se envergonhado de ser visto
em público com aquele novo rabi controvertido, de nome Jesus. Os fariseus se
aproximavam de Jesus de uma maneira condescendente, quase que ostensiva.
Nicodemos representa muita gente na nossa sociedade de hoje que julga estar
prestando enorme honra ao cristianismo quando declara:
“Nós — autoridades nas letras, árbitros do bom-gosto,
representantes da opinião pública, jornalistas, escritores de revistas e outras
publicações, comentadores e editores da TV, líderes dos movimentos sociais e
filantrópicos — reconhecemos que Jesus foi um grande Mestre”.
Todavia, por mais ostensiva e condescendente que a atitude
de Nicodemos tenha sido, a sua percepção mesquinha de quem era Jesus não mudou
uma vírgula na atitude de “braços-abertos” do Senhor. Nem deveria a atitude de
condescendência de nossa sociedade tornar-nos superiores ou amargos.
Como foi que Jesus conseguiu, ao mesmo tempo confrontar
Nicodemos com coragem sem, contudo, deixar de amá-lo? Vamos examinar bem de
perto que estilo de liderança Jesus revelou naquela noite.
Na qualidade de um jovem rabi de Nazaré, sem nenhum diploma
ou respaldo das autoridades, Jesus se
deparou com uma oportunidade rara de penetrar bem no centro do Sinédrio.
Não poderia haver nada mais agradável para um jovem e ardente líder espiritual
do que ter, por parte dos homens sábios e influentes, o reconhecimento de ser
ele também um mensageiro de Deus. Só depois de anos de ministério, ele poderia
vir a receber reconhecimento e elogios a valer, mas não no inicio.
Jesus poderia ter sido absorvido pela lisonja. Poderia ter
dito: “Estou honrado com sua presença aqui”, ou então, “é um grande privilégio
para mim”, ou, ainda, “estou satisfeito que tenha reconhecido que fui enviado
por Deus”. Isso faria muito sentido se o que o jovem rabi estivesse procurando
fosse apenas reconhecimento.
Falando da maneira com que falou, Jesus mostrou coragem,
audácia e compaixão. Não se preocupou em ir contra o “sistema” e nem
ridicularizou Nicodemos. Alguns líderes tentam construir seus impérios
rebaixando, ridicularizando, zombando, usando de sarcasmo, mantendo secreta uma
grande animosidade. Jesus não usou de nenhum desses recursos.
Aqui Jesus demonstrou que seu estilo de liderança é tão
versátil quanto precisa ser para cada ocasião que surge. Quando a multidão
estava reunida no templo, Jesus não hesitou em expressar publicamente sua ira
para com os vendilhões que haviam profanado a casa do Senhor.
Mas com Nicodemos agiu mansamente. Na quietude da noite não
hesitou em manter um debate firme, contudo paciente, com ele.
Não faz muito tempo, assisti pela televisão a um debate
entre um líder cristão e um conhecido humanista. Fiquei triste ao ver o líder
cristão muito mais empenhado em conquistar a aceitação do público do que
apresentar com firmeza as palavras de Cristo. Quanto mais insistentes se
tornavam às perguntas do auditório, mais enfraquecida se tornava à mensagem de
Cristo por ele transmitida.
A sociedade recebe de braços abertos os elementos da igreja
que aceitam sem relutância todos os tipos de crença. Nossa cultura é receptiva
aos líderes de igreja que não fazem exigências morais rigorosas. O mundo atual
parece sempre disposto a receber uma cristandade sem força moral, irresoluta,
que vê Deus em tudo e tudo em Deus. Mas esse não é o estilo de liderança de
Jesus.
O estilo de liderança de Jesus exige coragem — para falar a
verdade em amor. Há uma diferença entre amor e transigência.
Se alguma coisa aprendemos do estilo de Jesus, é que a
verdade vem acima de tudo. Jesus nunca lançou mão de meios escusos para
conseguir “vender mais”. Ele não facilitou as coisas com promessas.
Às vezes, chegou mesmo a desencorajar candidatos a segui-lo,
mostrando as dificuldades e o preço do discipulado. Não desejava que abraçassem
a nova fé ignorando o que o futuro reservava para os seus seguidores.
Os Espinhos da Coragem
Uma amiga nossa trabalhou vinte anos como agente no setor de
reserva de passagens de uma das maiores companhias aéreas do mundo. Nos dois
últimos anos, por três vezes teve problemas com seus supervisores por causa da
sua honestidade.
Como a companhia começou a controlar as chamadas feitas de
fora, descobriram que Bárbara tentava passar aos clientes informações completas
sobre o serviço e os preços. Se um cliente precisasse voar dentro de
determinado horário e a companhia não tivesse nenhum vôo marcado para a
ocasião, ela procurava informação com as companhias rivais e a passava ao
cliente. Certa feita chegou mesmo a dizer a um dos clientes que, naquele vôo,
seria mais econômico para ele viajar por outra companhia.
Bárbara sentia que era preciso demonstrar integridade,
embora estivesse também interessada em que sua companhia tivesse lucro. Ela
poderia ter perdido o emprego. Mas conseguiu mantê-lo até se aposentar porque a
companhia recebia cartas de clientes falando bem a seu respeito. Todos eles
faziam questão de agradecer à companhia pela honestidade encorajadora daquela
funcionária. Uma das cartas dizia: “Já viajei muito e nunca vi ninguém sugerir
outra companhia a não ser que eu insistisse muito. Ela forneceu aquela
informação voluntariamente. Quero que os senhores saibam que daqui por diante
viajarei exclusivamente pela sua companhia.” Até à aposentadoria continuou
ouvindo palavras de desagrado do seu supervisor. Mas ela disse que até preferia
ter anotações depreciativas em sua ficha pessoal do que agir desonestamente com
as pessoas. Infelizmente, essa companhia aérea não incentivou seus funcionários
a seguirem o exemplo de Bárbara — mas permitiu que ela trabalhasse dentro de
seu próprio esquema, porque compreendeu que estava sendo beneficiada com isso.
Se esse esquema traz vantagens ou não, o fato é que os
verdadeiros líderes têm um posicionamento definido em relação aquilo em que
crêem . Esta é a opinião de um líder sobre o assunto: “Se transijo com um
princípio para agradar alguém, como é que vou estabelecer os meus padrões”?
A Coragem de Cristo
Em lugar algum da Bíblia vemos Jesus pedir a seus seguidores
que tenham uma grande coragem. Em nenhum lugar ele disse: “Jamais transijam com
seus valores”. Ele não precisava dizê-lo! Seu exemplo era suficiente.
No segundo capitulo de João, por exemplo, nosso Senhor
manteve seu posicionamento contra todos os líderes judeus do seu tempo, porque
eles haviam transformado sua casa numa casa comercial. Ele os enxotou com
açoites e virou suas mesas. Repreendeu-os duramente por sua corrupção.
Numa ocasião, quando eu estava ensinando sobre esse texto,
um jovem promissor aluno, homem de negócios, interrompeu: “Sempre achei isso aí
a coisa mais tola do mundo. Ele fez isso, mas no dia seguinte o pessoal voltou,
colocou as mesas de volta no lugar e continuou a fazer a mesma coisa”.
Antes que eu pudesse replicar, uma jovem dona-de-casa
retrucou: “Às vezes temos que agir simbolicamente. Jesus não podia limpar o templo
todos os dias. E nem pretendia fazê-lo. Ele poderia ter passado todo o seu
ministério procurando meios de derrubar as mesas e enxotar os vendilhões. Mas
ele usou aquela ação como um meio para atingir toda a nação judaica; com aquele
ato tão significativo ele mostrou a todos aquilo em que cria e o que ele
próprio representava”.
Eu, certamente, não teria tido melhor resposta do que essa.
Não precisamos de mais moralistas na nossa sociedade atual;
o mundo está cheio deles. Precisamos, sim, de líderes que nos conduzam
corajosamente, que conheçam a verdade e a proclamem sem medo. Não precisamos
que nos digam quais são as nossas abnegações; precisamos da coragem de Cristo
para fazer aquilo que já sabemos muito bem que devemos fazer.
Coragem na Luta
Certo líder disse: “Os líderes escolhem suas próprias
batalhas. Mas não podem vencer todas elas. Estão sujeitos a perder algumas
durante a campanha, mas podem vencer a guerra”.
A liderança é, muitas vezes, uma batalha, e a luta requer
coragem.
Ter coragem não significa nunca sentir medo ou vacilar; não
quer dizer que você nunca vai se sentir confuso, nem perguntar: “Oh Deus! será
que é certo o que estou fazendo?” Ter coragem é fazer o que é certo,
independente das conseqüências.
Martinho Lutero, o ardente reformador do século XVI, foi um
homem de muita coragem. Ele desafiou a igreja daquela época, o papa e outros
líderes religiosos e seculares. Em 1521 apareceu diante da Dieta Germânica, na
cidade de Worms, e, embora tivesse a promessa de ser protegido, sabia muito bem
que estava arriscando a vida. A mesma promessa tinha sido feita a João Huss um
século antes, e ele tinha sido queimado na fogueira. Os líderes da igreja
prometeram a Lutero perdoá-lo caso se arrependesse dos “erros” e voltasse à “fé
verdadeira”. Lutero sabia que essa promessa tinha pouco valor, porque para eles
uma promessa feita a um herético não precisava ser cumprida. Ele conhecia a
história dos dois séculos anteriores, quando mulheres de cristãos tinham sido
torturadas, e muitos outros mortos durante a infame Inquisição Espanhola.
Lutero conseguiu chegar à corte em segurança, mas foi-lhe
negada a oportunidade de defender suas teses. Em vez disso, apresentaram-lhe
uma lista dos “erros” nelas contidos. Mesmo sabendo que a corte podia decidir
sobre sua vida ou morte, quando instado a dizer se se retrataria, sua resposta
foi:
“A menos que eu esteja convencido do erro através do
testemunho das Escrituras (já que não deposito fé na autoridade insustentável
do papa e dos concílios, porque está claro que eles tem errado muitas vezes e
que, também, muitas vezes tem entrado em contradição uns com os outros), e com
as Escrituras para as quais apelei, não poderei me retratar e nem me retratarei
de nada, porque agir contra a própria consciência não é certo, nem nos é
permitido.
Por isso mantenho minha posição. Não posso agir de outra
forma.
Que Deus me ajude. Amém”.
(T.S.
Lindsay, A History of the Reformation, Charles Scribner’s Sons, p.257).
Através dos séculos homens de Deus tem assumido seu
posicionamento.
Mantiveram-se firmes em nome da verdade, da integridade e da
justiça, qualquer que tenha sido o seu campo do trabalho.
A Coragem em Ação
Alguns anos atrás, havia na Austrália um líder cristão —
vamos chamá-lo de Jim — , que trabalhava para o governo. Logo na sua primeira
semana do trabalho, seu superior perguntou-lhe se ele gostaria de “fazer umas
horas extras”. Como precisasse de dinheiro, Jim disse que sim.
Na primeira noite, seus companheiros sentaram-se a uma mesa
para jogar cartas. Quando perguntou pelo trabalho que devia fazer, sou
supervisor disso: “Que trabalho? Hora extra é ficar por aqui ‘fazendo cera’ e
bater o ponto depois do expediente”.
Jim não se deixou intimidar. Em vez disso, o que fez foi
repreendê-lo : “Se estamos sendo pagos para trabalhar, temos de trabalhar”.
Os outros empregados não só se aborreceram com Jim, como até
começaram a persegui-lo.
Primeiro impediram que ele fizesse qualquer hora extra;
depois, a chefe deu-lhe as piores tarefas. Naquele escritório Jim começou a
ficar conhecido por “bíblia”, “pastorzinho”, “fanático” e por mais uma porção
de apelidos pejorativos.
Jim se manteve firme. O chefe disse: “Você é um cara legal —
esquece esse negócio de lealdade. Faz como os outros e você vai ganhar muito
mais dinheiro.”
“Tenho que trabalhar se estou sendo pago para isso. Jogar
cartas nas horas de trabalho, quando estamos ganhando extra, não condiz com
minhas convicções”.
A situação acabou se tornando insuportável e Jim teve de
deixar o trabalho. Antes de sair, o chefe do departamento chamou-o ao
escritório e disse-lhe que sua posição tinha mudado a atitude de outros
empregados. As pessoas tinham começado a falar em um nível de consciência muito
mais alto do que jamais se ouvira naquela empresa.
A coragem de Jim tinha feito dele um líder. Sua recusa em
agir como os demais foi honrada por Deus, que desde então o tem abençoado
abundantemente, quer no setor financeiro, quer na vida espiritual. Foi o
próprio Deus que prometeu: “aos que me honram, honrarei” (1 Sm 2.30).
O Preço da Coragem
Os cristãos que estão em cargos de chefia sabem que um
posicionamento definido pode significar prejuízo financeiro, e até mesmo perda
de emprego. Os empregadores podem acusá-los de deslealdade.
Mas um líder corajoso sabe que agradar a Deus deve ser a
prioridade máxima em sua vida.
O apóstolo Paulo lutou com o problema de agradar a Deus ou
conquistar a aprovação dos outros. A epístola aos gálatas mostra isso
claramente. Paulo tinha transmitido aos gálatas a mensagem evangélica de que
Deus salva através da fé em Cristo — e que isso era tudo. Depois que ele saiu
da Galácia, apareceu um grupo de mestres dizendo aos membros da igreja que era
preciso que eles cressem em Jesus e se submetessem à circuncisão.
Paulo se lhes opôs: “Absolutamente não!” Ele sabia que
aqueles homens estavam ensinando um “evangelho diferente” (Gl 1.6). Insistiu
com o povo para não dar ouvidos aqueles cristãos judaizantes e concluiu
dizendo:
“Porventura procuro eu agora o favor dos homens, ou o de
Deus? Ou procuro agradar os homens? Se agradasse ainda a homens, não seria
servo de Cristo” (Gl 1.10).
Essas palavras exigiram coragem. Elas provocaram
controvérsia, causaram ira nas pessoas. Paulo provavelmente perdeu um bocado de
amigos com esse debate. Mas ele se manteve firme por uma questão de princípio.
Hoje podemos nos alegrar porque Paulo tornou clara para sempre que a base da
vida de um crente é a fé em Jesus Cristo. Não temos que “completar” nossa fé
com práticas do judaísmo, nem precisamos de “Jesus e...”.
Reparem bem no risco dessa atitude corajosa. O bom-senso
habitual deveria ter dito a Paulo: “Esse negócio não vai dar certo. Os
judaizantes vão ficar tão irritados que acabarão voltando-se contra Jesus. Você
tem de falar com eles devagar, com jeito”. Mas Paulo, do mesmo modo que Jesus,
não vivia pelos padrões do bom-senso prevalecente. Seu estilo de liderança
estava num nível mais elevado.
Nicodemos: O Resto da História
E aquela história do encontro de Nicodemos com Jesus, a que
nos referimos antes? Foi corajosa, mas, em ultima análise, surtiu efeito?
Uma passada pelo Evangelho de João mostra que Nicodemos mais
tarde fez uma tentativa um tanto fraca de defender Jesus, quando disse aos
líderes religiosos que não condenassem Jesus sem submetê-lo a julgamento no
tribunal. “Nicodemos, um deles, que antes fora ter com Jesus, perguntou-lhes:
Acaso a nossa lei julga um homem, sem primeiro ouvi-lo e saber o que ele fez?
Responderam eles: dar-se-á o caso de que também tu és da Galiléia? Examina, e
verás que da Galiléia não se levanta profeta”. (Jo 7.50-52.)
Mais tarde, porém, Nicodemos tomou realmente uma posição de
coragem. Depois da crucificação de Jesus, o abastado José de Arimatéia pediu a
Pilatos permissão para sepultar o Senhor em seu próprio túmulo. E ai aparece na
Bíblia a última menção a Nicodemos: “E também Nicodemos, aquele que
anteriormente viera ter com Jesus à noite, foi, levando cerca de cem libras de
um composto de mirra e aloés” (Jo 19.39). Os dois homens juntos colocaram o
corpo de Jesus no túmulo. Com este ato, Nicodemos declarou abertamente que era
seu discípulo.
Fora preciso bastante tempo para que Nicodemos admitisse que
era seguidor de Jesus. Mas, quando se tornou mais perigoso declarar sua
condição de discípulo, ante o evento da cruz, ele encontrou coragem — ou
melhor, a corajosa liderança de Jesus contagiou-o.
Parecia que da cruz fluía audácia para Nicodemos; ele ajudou
a preparar e sepultar o corpo de Cristo.
Não resta dúvida de que, quando Nicodemos olhou para Jesus
na cruz, lembrou-se daquela noite em Jerusalém, quando o Senhor lhe havia dito:
“Assim importa que o Filho do Homem seja levantado” (Jo
3.14).
Talvez fosse aquela lembrança que tivesse varrido toda
hesitação e todas as dúvidas da mente de Nicodemos.
Tudo tinha começado quando Jesus mostrou coragem no trato
com Nicodemos. E isso também é uma característica do seu estilo de liderança.
Tirado do livro: “O estilo de liderança de Jesus”
AUTOR: Michael Youssef